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é, sobretudo, pela excelente qualidade da música que aqui
se ouve mercê da sua exemplar coleção de discos, repertó-
rio eclético em chapas importadas.
Amaral gosta da referência a sua discoteca, mas nada
comenta. Naquele momento escutam os dois um dos
discos recém-chegados do Rio de Fevereiro: a raridade do
Quarteto para contrabaixos, do compositor alemão Erich
Hartmann, executado por instrumentistas da Orquestra
Filarmônica de Berlim.
Amaral, embora não se proclame, tem-se como um
vanguardista. A música dodecafônica é o gênero que diz
ser da sua preferência. Invectiva a mesmice das músicas
barroca e romântica. Xandi Cabral, seu companheiro mais
constante de audição, desconfia de que, por baixo da
crítica que o amigo faz à música tradicional, e à sombra do
tipo complexo da composição moderna, que ele diz
apreciar, o musicófilo esteja a se exibir perante os colegas
de audição. Especialmente os músicos da cidade, que só
apreciam o barroco. “- O que ele tem é inveja dos músicos
porque dominam a técnica da leitura musical e o Amaral,
não.” – critica à socapa.
- E quais são os seus dez compositores preferidos, Amaral?
- Um deles é Bèla Bartók. Gosto de tudo dele, mas minha
música de cabeceira são os Quartetos de Cordas. Ouço um
deles por dia, todos os dias.
- Todos os dias?
- Todos os dias. Uma vez gravei os seis quartetos e levei
gravador e fita para umas férias na Serra de Itaipava. Antes
de dormir, com fone de ouvido, ouvia um quarteto inteiro.
Anita estrilou, disse que eu devia ter-me casado com
Bartók...
- E quem mais?
- Quem mais o quê?
- Quais os outros compositores da sua preferência?
- Na letra bê, Bernstein.
- O maestro?
- Sim, Leonard Bernstein. Ele compôs três sinfonias, alguns
poemas sinfônico e uma missa. Gosto especialmente da
Terceira Sinfonia, também chamada de “Kaddish”. Da letra
bê salto para a letra aga, de Hindemith. Adoro os sete
concertos para orquestra de câmara desse alemão de
Hesse. Outro que gosto muito é Janácek, sobretudo os dois
quartetos para cordas: o número um, também conhecido
como A Sonata de Kreutzer e o número dois, igualmente
conhecido como Cartas Íntimas.
- Mas a peça mais conhecida dele é a Sinfoneitta para
orquestra...
- É. Uma das obras composta no final de sua vida. Mas não
gosto dela não. Depois de jota vem o cá de Kodály.
- Não conheço nada de Kodály.
- A suíte para orquestra Hary Janos é a sua obra mais
divulgada, mas gosto mesmo e gosto muito são da Sonata
para violoncelo solo e a Serenata para dois violinos e viola.
- Em ele vem Lalo e em eme vem Mozart...
- Em ele vem também List e em EME, Malher. Ouço os dois,
mas esporadicamente. Estamos falando de música ouvida
com certa frequência, não é? Nessas condições, do cá salto
para o ene de Nielsen: Carl Nielsen. Gosto muito dos quatro
quartetos para cordas desse dinamarquês, muito mais do
que das suas sinfonias, que foram seis mas só se divulgam
cinco.
- Parecido com Bruckner, que compôs onze sinfonias e
numerou apenas nove. E na letra pê, já que se não conhece
nenhum compositor com a letra ó?
- Tem o Offenbach e um tal Oswald...
- Do Offenbach, e da Gaité parisienne, eu já ouvi falar,
apesar de nada ter escutado dele, mas desse Oswald...
Oswald de quê?
- Henrique Oswald, e, pasme! um brasileiro que compôs
várias óperas e algumas peças orquestrais.
- Brasileiro?
- Nascido e morrido no Rio de Janeiro. Compunha à
européia...
- Como o Carlos Gomes?
- Sem comentários. Na letra pê eu poderia destacar
Prokofiev, que é o mais conhecido dessa letra, mas não o
ouço com constância. Assim, não vale. Nem na letra erre de
Ravel. Salto para a letra esse, e aqui destaco o Schöenberg
e o Shostakovich.
- Do Shosta eu também gosto.
Holbein Menezes é associado da AAPPREVI