- Perceber não é tomar consciência dos objetos?
- Freud: o ego emite catéxias de atenção exploratória do 
mundo exterior que vão encontrar o objeto a meio-
caminho.
- Assim também acontece com a percepção da realidade 
interna?
- Freud nunca deixou claro o mecanismo de percepção da 
realidade interna; mas não a atribuía à percepção.
- Atribuía a quê?
- Separou percepção e consciência.
- ?
- Atribuiu à consciência a qualidade de receber excitações 
do mundo interno.
- Que significa isso?
- Excitações do mundo interno constituem-se exclusiva-
mente de sensações de prazer e desprazer.
- O Senhor sente mais prazer aqui na Casa do Senhor Deus 
do que no lugar de onde vem?
- Lá na minha megalópole suja e malcheirosa perdi muitas 
das antigas certezas, mas não cheguei à verdade nenhuma; 
pelo contrário, ampliei minhas dúvidas e cismas.
- Que antigas certezas o Senhor tinha?
- De que todos nascemos no piloto automático mas apenas 
alguns assumem o comando.
- Que significa essa metáfora?
- Quando ganhei a aposentadoria fiquei sem saber o que 
fazer com o resto da minha vida.
- A lei da aposentadoria é humana, e assim falha; só a Lei de 
Deus é Efetiva e Perfeita.
- Os homens ao fazer suas leis pretendem estar expressan-
do no microcosmo humano a ordem do macrocosmo.
- Nos humanos, todo segredo escrito é para ser descoberto. 
Por analogia, todas as leis cuidam, não para serem cumpri-
das mas, especialmente, para não serem descumpridas; 
porque no Brasil há  as leis que pegam e leis que não pegam. 
- Quem faz sinal para tudo, não faz sinal para nada.  
- O Senhor acredita que o nada existe?
- O nada é uma abstração desde que não corresponda ao 
zero.
- E por que o zero que é nenhum não deva corresponder ao 
nada que também é nenhum?
- Engels: porque o zero é muito rico, mais rico em conteúdo 
do que qualquer outro número.
- ?

- Ponha-se seis zeros ao lado direito da unidade e esta se 
transforma em um milhão de unidades.
- Essa é uma verdade dos homens, mas não é a Verdade do 
Deus Pai.
- O zero anula qualquer outro número pelo qual seja 
multiplicado.
- Quando eu era gente, nunca fui bom em tabuada...
- Quem foi bom em tabuada foi Albert Einstein.

Já se fazia tarde. A arcanja começava a bocejar. Os lindos 
olhos cor de avelã aos poucos perdiam o brilho. O franzido 
na testa indicava cansaço. Perguntei:

- Aqui na casa do senhor deus não se descansa? 
- Só aqui na Casa de Deus é que experimentamos o Descan-
so Profundo e Eterno! Boa-noite, Senhor!
- Até amanhã.

Na manhã seguinte procurou-me a Dra. Quê Escopeta, 
brasileira de origem italiana. E, com a empáfia comum a 
todos os médicos, que se julgam senhores da vida e da 
morte, foi logo comandando:

- Preciso ver sua identidade.
- Identidade não se vê, percebe-se pelo conjunto de 
características que distinguem uma pessoa.
- Refiro-me a sua cédula de identidade. Por favor!
- Não tenho documento algum. Perdi todos os papéis que 
se encontravam no meu embornal.
- O Senhor é um cavalgante?
- Sou caminhante. E não me posso chamar nem de Pacífico 
nem de Jubiloso, talvez Desgraçado, como na “Walquíria”, 
de Wagner. O sofrimento dá voltas em torno de mim como 
um caracol em sua casa.

 Continua na próxima edição

 Holbein Menezes é associado da AAPPREVI

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