Com todo respeito às opiniões divergentes, penso que o
mais grave do Projeto de Lei 268/2016 é que acaba com a
paridade na representação participantes/patrocinadoras
nos fundos de pensão e retira outros direitos dos trabalha-
dores, conquistados ao longo de décadas.
Trata-se de um retrocesso.
O texto substitutivo do senador Aécio Neves (PSDB) — que
juntou os PLS 388 e PLS 78 e RENOMEADO para Emenda Nº
6 PLEN — foi aprovado no Senado por unanimidade, ou
seja, contou com o voto “SIM”, estranhamente até dos
senadores petistas e, na prática, acaba com a representa-
ção dos trabalhadores na Diretoria e reduz nos conselhos
fiscal e deliberativo dos fundos de pensão.
Note que foi feito um substitutivo (Emenda nº 6 - PLEN)
baseado no PL 388. Por essa razão, na Câmara dos Deputa-
dos ele foi renomeado para PLP 268/2016.
No texto aprovado no Senado e que agora segue para
aprovação da Câmara dos Deputados, os trabalhadores
deixam de ter metade dos conselheiros fiscais e deliberati-
vos em todos os fundos de pensão de estatais brasileiras.
Se aprovado como está serão dois representantes de
patrocinadoras, dois “do mercado” e dois eleitos pelos
trabalhadores. Isso significa que basta que os representan-
tes das patrocinadoras se unam aos do “mercado” para
aprovarem ou reprovarem o que quiserem nas fundações
(investimentos, redução do valor dos benefícios, mudan-
ças nos planos etc).
Na Diretoria o alijamento dos representantes dos partici-
pantes e assistidos é mais problemática. O risco é que o
dinheiro e o patrimônio, que são dos trabalhadores, serão
geridos por agentes do mercado. Esses últimos, não sendo
beneficiários do plano no futuro, estarão totalmente
alheios às necessidades dos participantes e descomprome-
tidos com a saúde financeira dos fundos de pensão. Podem
não ser tão “independentes como se apregoa. As grandes
empresas brasileiras envolvidas no Lava Jato com corrup-
ção, formação de quadrilha, etc., são geridas por experts de
mercado, profissionais até então tidos como especialistas
e assistimos muitos seres presos ou indiciados. A Petrobras
era gerida por figuras de alto conceito no mercado de
petróleo... “especialistas”, não são sindicalistas ou
dirigentes de partido, mas levaram a PETROBRAS a todo
esse descalabro que assistimos todos os dias no noticiário.
Saindo do âmbito da PREVI e olhando para todos os fundos
de pensão, veremos que a maioria dos dirigentes de fundos
não é formada por dirigentes de partidos. Muito das
proposições do PLP já estão previstos em normas, resolu-
ções e instruções do CNPC e Previc.
A própria PREVIC já aprovou Resolução e Instrução
exigindo que os dirigentes de fundo de pensão deve ser um
profissional técnico e deveria ser recrutado dentro da
própria fundação, ou Fundo de Pensão.
A figura do conselheiro independente traz algumas
dúvidas: Será independente de quem? Qual a garantia de
que ele não pode ser cooptado pela patrocinadora ou pelo
governo controlador? Por outro lado, vamos refletir sobre
algumas Fundações ou outros Fundos de Pensão menores,
mas que sofrerão os efeitos desse Projeto. Observe que no
caso da Forluz, onde os conselheiros não são remunerados,
será que o independente concordará em trabalhar de
graça, uma vez que o PLS aprovado estabelece que a
remuneração do independente “deverá seguir os mesmos
parâmetros dos demais Conselheiros”?
Se aprovado o Projeto como está o conselheiro indepen-
dente terá as mesmas responsabilidades dos demais
conselheiros. Ele estará submetido à Resolução 19/2015
da PREVIC e a Instrução 28/2016?
Com tudo isso, não é privando os trabalhadores do direito
de gerir nossos Fundos de Pensão que iremos moralizar a
gestão. Muito mais do que condenar a gestão compartilha-
da o que precisamos é de alterar as leis que norteiam a
fiscalização, dotando os órgãos reguladores e fiscalizado-
res de instrumentos eficazes para que possam atuar com
rapidez, eficiência, probidade e que suas determinações
tenham força de lei. O próprio projeto de lei em discussão
em sua parte boa, já prevê que além da Secretaria de
Previdência, além da PREVIC, o Tribunal de Contas da União
passará a fiscalizar a gestão dos fundos.
9
revista
Isa Musa de Noronha é presidente da FAABB