Até pouco tempo, eu não parava para refletir sobre os
anos que pesam sobre os nossos ombros, entretanto,
quando eu me tornei setuagenário, recebi um telefo-
nema de congratulações de um amigo. Brincando, eu
lhe disse que não se parabeniza alguém que está na
minha idade. Ele, também como gozação, respondeu-
me algo que ainda não esqueci e que me fez refletir:
– Eu não estou lhe parabenizando por seu aniversário.
E arrematou:
– Estou lhe dando os parabéns porque você ainda está
vivo.
Eu sei que foi um gracejo daquele amigo, mas, em que
pese a vida ser um dom de Deus, desde então, eu passei
a observar os meus traços de velhice com mais
atenção.
A Bíblia Sagrada é um manual completo. O salmo
90:10, diz:
“Os dias de nossa vida sobem a 70 anos ou, em
havendo vigor, a 80, neste caso o melhor deles é
canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e
nós voamos”.
Vocês querem uma verdade maior do que esta? Quem
na nossa idade não está sempre sentindo uma dor?
A propósito, quando eu era jovem e a minha mãe já era
idosa, ela me dizia que tinha uma dor que andava. Eu,
crendo que se tratava de manhas da idade, fazia
gozação. Mas, hoje, eu tenho uma dor que anda. “Boca
falou, c... pagou”, diz um velho ditado da minha terra.
Aliás, ela (a dor que anda), às vezes, me acompanha o
dia inteiro pela cidade.
Há algum tempo, quando da partida definitiva de um
amigo da nossa geração, eu escrevi um texto cujo
título é “Mudança de Hábitos”. Como muitos de vocês
se lembram, ali eu enfoquei como o tempo nos faz
mudar nossa maneira usual de ser. Com a idade,
mudamos as diversões, os costumes e até os prazeres.
Entretanto, como uma contrapartida dolorosa,
chegam também os dissabores e as tristezas com o
“adeus” aos colegas queridos, muitos deles compa-
nheiros de décadas.
Recentemente, acrescentei um novo item aos meus
novos hábitos, além de visitar enfermos, participar de
velórios e me fazer presente em ofícios católicos aos
mortos, visitar, em casas de repouso, pessoas de quem
gostamos (pessoas que vimos no passado com todo
vigor e verdor) e que hoje estão alquebradas pela
idade.
Vocês sabem o que é uma “casa de repouso”? Em nome
do politicamente correto, é o novo nome utilizado
agora para “abrigo de velhos”. Visitei uma pessoa das
minhas relações de amizade, que me pareceu feliz num
estabelecimento moderno, caro e confortável (nada
lembrando os abrigos do passado), assistida por
enfermeiras gentis, vestidas a caráter e preparadas
para o mister e cercadas de pessoas da sua geração.
Entretanto, aquele ambiente, mesmo com a sua nova
designação, que tem a mesma aparência daqueles
“certinhos” que vemos nos filmes americanos, não
conseguiu me tirar o conceito de que aquela gente
(inclusive a pessoa amiga) está num “depósito” de
idosos. Muitos estão preparados para a morte, mas não
estão prontos para uma antessala antes da partida
final.
E as mazelas que chegam com a idade?
Vamos fazer gozação com elas? Vocês sabem quais são
as duas piores coisas para um velho: “vento frio pelas
costas e mulher pela frente”, diz um adágio mordaz. O
vento frio pode acarretar uma pneumonia que é
“mesmo que um tiro” para pulmões de segunda mão. E
mulher pela frente? Já ouviram falar em disfunção
erétil?
Voltando a comentar o politicamente correto,
disfunção erétil é uma nova e científica denominação
para a velha e conhecidíssima “broxada”.
Um dia desses, numa mesa de bar, com amigos da
minha faixa etária, conversávamos sobre esse tema,
quando um deles mandou esta bela e falsa frase:
– Eu estou com uma leve disfunção erétil!
Vocês entenderam? O ser humano gosta de amenizar
as suas agruras. Será que ele quis dizer que estava
“meio broxa”? Não me contive e retruquei:
– Amigo! Estamos falando de potência, mas não se
trata de Matemática. Não existe ½ broxa. Ou broxa
sobre “x”. O hidráulico funciona ou não. Broxura não é
uma ciência exata. Ou será?
Existem várias maneiras de se verificar se você está
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